Apenas uma escultura. Um tritão, o torso bem definido, carregando um tipo de ânfora sem alças por onde a água do lago corre. Ele é uma fonte d’água numa ilhota artificial, recoberta por folhagens de um verde muito, muito escuro. Ele, o tritão mitológico, é a única escultura do Passeio Público concebida por uma mulher. Nicolina Vaz de Assis viveu entre 1866 e 1941 e traçou um caminho dissonante em uma época em que a atividade em escultura era considerada um ramo exclusivamente masculino.
Luana Aguiar convoca um grupo de artistas e parceiras para ocupar o Passeio Público. A performance A fonte e a noiva abre alas para que a presença de mulheres no jardim não se dê apenas pela fantasmagoria, pelos humores miasmáticos que saem do solo criado, pela água que jorra da réplica do tritão de Nicolina.
Abrindo um tapete vegetal de folhas e flores brancas, que serpenteia o caminho do portão principal até a Fonte do Tritão, as participantes da ação saem da condição de fantasmas e se materializam em presença sólida que oferece rosas, gérberas e mosquitinhos às suas mortas, reivindicando o luto por elas e por esse território.
A obra adentra a galeria na forma de 60 fotografias instantâneas que registram não apenas a instalação do tapete, durante a performance, mas sua decomposição – ou a destruição, já que foi varrido por profissionais de limpeza urbana no dia seguinte à ação.
Enquanto as flores se desfazem no Passeio, a obra vai se completando no interior da galeria, com imagens sendo inseridas pouco a pouco na parede marcada em grafite à espera dos espectros que irão preencher o quadro.