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A obra de Mariana Maia reverencia Olossá, orixá das águas salobras das lagoas, que se perdeu na travessia atlântica entre África e Brasil e no desaparecimento das cinco lagoas que constituíam esse solo pantanoso do Centro do Rio. A divindade vem à superfície da Lagoa do Boqueirão, denunciando apagamentos e histórias enterradas. Varais, pregadores de roupas, tecidos, uma bacia de alumínio e miçangas ativam um imaginário ligado às atividades performadas pelas mulheres negras escravizadas no século XVIII, quando da construção deste jardim supostamente pacificado.

Ao inscrever em tecido o traçado de Mestre Valentim para o Passeio Público, propondo lavar a roupa suja da história, Mariana traz à tona as águas dominadas pelo desejo higienista de “limpar” o ar e repovoar a região com a aristocracia.

Informantes, protetoras, sacerdotisas, rainhas. As mulheres que Mariana visibiliza são agentes de luta, resistência e reativação do seu protagonismo na história do Brasil. Olossá revira as águas da Lagoa do Boqueirão para reconquistar o espaço que lhe é de direito.

Além de Olossá, a artista realizou também a performance Trouxa corpo. Junto a um grupo de artistas negras, evocou a presença de Marielle Franco, Luisa Mahin, Tereza de Benguela e Dandara dos Palmares. No córrego do Passeio, lavaram bandeiras brancas com imagens dessas mulheres históricas, fazendo justiça e lembrando que o Brasil foi construído com o sangue e o trabalho de pessoas negras sistematicamente silenciadas. O grito de Mariana não nos deixa esquecer que a roupa suja não se lava em casa, mas em público.


Mariana Maia
Olossá (detalhe), 2023
Pintura sobre tecido, bacia de alumínio e fios de conta
Dimensões variáveis
Performance realizada no Passeio Público:
Trouxa corpo
Com Mariana Maia, Darlene Santos, Jacqueline Macedo e Janaína Andrade
Fotos de Tiago Morena.