Skip to main content

Quantos Passeios existem no Passeio Público? Quantas presenças e quantas ausências já passaram por esse chão criado?

Como artista e pesquisadora, Eloá Carvalho tem vasculhado arquivos fotográficos, documentais e literários. Na mostra, ela apresenta dois trabalhos.

Em Contradições, dez frases publicadas em jornais de várias épocas ou em obras literárias são pintadas em aquarela sobre cartão, criando um conjunto discursivo que narra apagamentos, demolições e renovações urbanas, mas também ativa novas camadas. Ao tratar o texto como imagem, como desenho, Eloá atribui às frases a dimensão pictórica, tão importante em seu caminho.

Vamos acabar de vez com esses trambolhos! lembra os emblemáticos Pavilhões do Passeio, o Casino Beira-Mar e o Theatro Casino, tratados como estorvos. Além deles, figura o também já demolido Palácio Monroe. A pintura trata a imagem apreendida de uma fotografia antiga com camadas de tinta, mas também de luz, de tempo, de memórias e sobreposições narrativas.

A terra criada gera um conflito cognitivo. Ninguém entende muito bem onde estava o mar, onde estavam os pavilhões, onde estava o terraço do Passeio Público. As camadas sobrepostas de expansão do chão em direção ao mar afastaram o Passeio da água, levaram para longe as ondas. A imagem foi ficando cada vez mais esmaecida. Com o passar dos anos, quem se lembra que ali houve mar? Que ali fizeram pavilhões de teatros, risos, festas e infiltrações? Que foi difícil demolir, que as marretas precisaram trabalhar tanto para destruir fundações que, afinal, não estavam se esfarelando tanto assim?


Eloá Carvalho
Vamos acabar de vez com esses trambolhos! (detalhe), 2023 
Óleo sobre tela 
120 x 90 cm
Contradições,  2023 
Série de 10 desenhos em aquarela sobre papel cartão
24 x 18 cm
Fotos de Tiago Morena.