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As grades vazadas do Passeio Público foram instaladas apenas em 1835, e o muro que existia antes pode ser pensado como uma membrana real e simbólica entre a rua e o jardim. Ele foi ainda o limite bastante rígido entre a população escravizada, para quem a rua era o único lugar, o do trabalho; e a elite branca colonial, detentora dos privilégios do descanso, da contemplação e do lazer. 

O Passeio era o lugar onde as senhoras consideradas dignas passavam a ver e a ser vistas. Os limites e comunicações entre a rua e o jardim são excelentes vetores para identificar as diferentes condições femininas no Rio de Janeiro do século XVIII.

O crescimento da cidade fez com que as mulheres negras encontrassem brechas para a mobilidade social. Usando o espaço da rua para vender quitutes e flores, elas compraram alforrias e atuaram como os olhos e bocas de grupos que lutavam por direitos civis.

Entre as mulheres brancas, a urbanização trouxe a oportunidade de reconfiguração e reivindicação de espaços. Antes do Passeio, viviam resguardadas por muxarabis e restritas ao trajeto entre o ambiente doméstico e a igreja. A construção do jardim foi um marco de ampliação de perspectivas sociais.

O Passeio em imagem de 1835, mesmo ano em que os muros foram substituídos por grades /Acervo IMS

Silhuetas do cabeçalho integram a identidade visual de Passeio Público, a cargo do Estúdio Afluente (Clara Meliande, Marina Sirito e Julia Sá Earp)