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Mestre Valentim, cabeça de anjo para Igreja de São Pedro dos Clérigos, s. d.

O maior artista do Rio de Janeiro no século XVIII era negro, filho de um explorador de diamantes português com uma ex-escravizada. O racismo apagou a mãe de Mestre Valentim, e o que se sabe é que o escultor e arquiteto nasceu em Minas Gerais, mas foi levado pelo pai para estudar em Portugal. Aos 25 anos, fez o caminho de volta pelo Atlântico, e passou a morar no Rio.

Era maçom e manteve uma loja na Rua do Sabão, endereço de prestígio no centro carioca da época. Sua obra é onipresente na cidade,  multiplicando-se por lampadários, imaginárias e retábulos de igrejas, além de importantes intervenções urbanas. Apesar disso, queixou-se a vida inteira de ser mal remunerado e morreu muito pobre.

Nos chafarizes das Marrecas, do Lagarto e das Saracuras, esculpiu animais que transitam entre a água e a terra, mesma característica das garças e jacarés da Fonte dos Amores, no Passeio Público. De acordo com a história oral, os bichos da Fonte são alegoria da paixão não correspondida do vice-rei por uma moradora do Boqueirão. Em 2023, a cena dos répteis espreitando as aves assombra aos que reconhecem o Passeio como território-vestígio do massacre dos tupinambás e do sequestro dos povos da diáspora africana. Mas também do triunfo de um artista que encontrou frestas para que seu talento voasse acima e além dos preconceitos.

Detalhe da pintura “Reconstrução do Recolhimento de Nossa Senhora do Parto” (1789), de Francisco Muzzi, na qual Mestre Valentim, autor do projeto de reforma, é retratado como homem negro / Museus Castro Maia

Silhuetas do cabeçalho integram a identidade visual de Passeio Público, a cargo do Estúdio Afluente (Clara Meliande, Marina Sirito e Julia Sá Earp)