Olhar o olhar: ao se apropriar de duas paradigmáticas pinturas de Leandro Joaquim (c.1738-c.1798), criadas para os mirantes do Passeio Público, Denilson Baniwa volta sua atenção para os modos de ver institucionalizados pelo Rio de Janeiro colonial. A tela oval, técnica europeia muito popular no momento da construção do jardim, é alegoria da visão: buscava emular, no formato, o olho de quem pintava e o de quem via a pintura.
O que Baniwa vê e nos convida a ver a partir de Joaquim? O que ele propõe desver? Se a moldura oval se aproxima de espelhos, escotilhas e lentes, o artista nos oferece esse objeto-mirante menos como miragem e mais como ponto de mira.
Se Joaquim acessa um passado para ele recente, alcançável como testemunha, Baniwa imagina a retirada de mais e mais camadas de aterramentos históricos. Em A Lagoa do Boqueirão antes da Lapa, oferece ao olhar um território anterior às investidas coloniais e à degradação de ecossistemas que coexistiam com povos originários. Devolve a vida ao jacaré que, posteriormente, só pôde existir como escultura, na Fonte dos Amores.
Já em A revolta das jubartes reverte a cena original, de triunfo sobre a natureza, utilizando visualidades consolidadas na história da arte. Uma onda, apropriada de Hokusai, se precipita sobre os navios arpoadores de baleias. Baniwa não traz somente a vingança para os animais vitimados; também aponta que não estamos apaziguados com as narrativas da cristalização histórica como heróis os que construíram palácios, jardins e monumentos às custas de genocídios.