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Atendendo ao desejo das elites, o desmonte do Morro das Mangueiras para o aterramento da Lagoa do Boqueirão foi o primeiro aterramento de grande porte do Rio de Janeiro. Essa investida foi a primeira de um processo contínuo de gentrificação da cidade. Naquele momento, a população menos abastada dos entornos da região precisou deixar suas casas para dar lugar a fidalgos e nobres portugueses que desejavam usufruir do novo parque.

Os desmontes e aterramentos ocorridos com cada vez mais frequência se tornam ainda mais paradigmáticos se considerarmos o potencial simbólico dessas ações. Eles marcam a consolidação de uma modernidade que se estabelece a partir do soterramento de identidades, saberes e formas de coexistência nas áreas centrais de uma cidade construída por mãos pretas e indígenas. Diante da negação dessas historicidades, emergem as possibilidades de alcançar essas memórias por meio das imaginações. Tais elaborações chegam em fragmentos, em várias peças que, mesmo sem o encaixe perfeito, possibilitam uma polifonia capaz de remover as camadas de terra e de fazer emergir narrativas que outrora foram fadadas à penumbra.

“Lagoa do Boqueirão e Aqueduto Carioca”, s.d., de Leandro Joaaquim (c.1750-c.1798)

Silhuetas do cabeçalho integram a identidade visual de Passeio Público, a cargo do Estúdio Afluente (Clara Meliande, Marina Sirito e Julia Sá Earp)