Mestre Valentim criou para o Passeio um projeto tão interessante e contraditório quanto sua própria existência. Se três das faces de sua planta trapezoidal eram muradas, a quarta tendia ao infinito, debruçada sobre o mar da Baía de Guanabara. Ali, no terraço, ficavam dois mirantes, um deles dedicado a Apolo e outro a Mercúrio.
Para o de Apolo, Valentim encomendou a decoração com plumária brasileira feita por Xavier das Penas; para o de Mercúrio, conchas e escamas nos ornamentos assinados por Xavier das Conchas. Em ambos, as emblemáticas pinturas ovais de Leandro Joaquim (c.1738-c.1798).
Claramente inspirado no traçado racional dos jardins cortesãos franceses, o Passeio foi pensado como um movimentado esquema de aleias paralelas, perpendiculares e diagonais, que convergiam para uma via principal. Esta desembocava na Fonte dos Amores, onde jacarés de bronze saídos da pedra espreitavam três bicas em forma de garças.
Atrás da Fonte, um cupido exibia uma faixa, onde se lia os dizeres “Sou útil inda brincando”. Estaria Valentim falando ironicamente sobre si mesmo, já que a arte – sobretudo quando saída da imaginação de um homem negro, como ele – era vista como uma atividade apenas manual, prescindindo de escolhas e de intelecto?