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Com Bibelot, Mano Penalva revisita seu repertório – marcado pelo manejo de um vocabulário da artesania, de materiais e de um imaginário da cultura popular – a partir do diálogo com o projeto do Passeio Público. Cisnes e patos em vidro translúcido são dispostos em uma banca de camelô forrada com a típica lona plástica azul usada pelos ambulantes. As aves são arranjadas sobre o tabuleiro de modo a emular o traçado de diagonais e perpendiculares imaginadas por Mestre Valentim na criação de seu jardim cortesão.

Na obra de Penalva, chamam a atenção toda a fragilidade da montagem e o fato de ela acumular riscos: os bibelôs podem ser quebrados e a banca, cujo tampo está apenas apoiado na base retrátil, pode ser derrubada facilmente. Outro ponto importante é a fricção entre a escala íntima e doméstica dos bibelôs e a esfera pública do urbanismo.

Elementos decorativos de cômodas e penteadeiras no Rio que se queria francês, os bibelôs podem ser atravessados pela ressignificação dos papéis das mulheres a partir da inauguração do Passeio Público. As brancas ganharam interação social e furaram a barreira dos muxarabis; já as negras puderam vender flores e quitutes para financiar a própria alforria e a de outros, enquanto funcionavam como mensageiras e artífices da liberdade.

Os bibelôs lembram ainda a domesticação da natureza e gentrificação da cidade desde o período colonial, mas `Penalva encontra chaves para um rearranjo imaginário. Ao propor que os objetos estejam sobre um tabuleiro de camelô, os joga na circulação e na rua. O estado cristalizado se abre para a transformação.


Mano Penalva
Bibelot, 2023 
Patos e cisnes em vidro soprado e mesa articulável em madeira revestida com lona vinílica
75 x 100 x 140 cm
Fotos de Tiago Morena