Cápsulas de Tempo. A baobá, árvore ancestral das cosmogonias africanas que a artista trata no feminino, toma um lambe-lambe que a retrata quase inteira. As suas raízes aparecem em outra fotografia, imagem sobre a imagem, close que interrompe o travelling como um soluço. Barbara Copque conecta essas raízes majestosas da baobá às do Passeio Público e às suas. Todas se enroscam como polvos, numa anticronologia tentacular, submersa nas águas que resistiram a tantos soterramentos.
Tempo, orixá. Pele de experiências que adere à parede da galeria. Abraço que envolve no agora tudo o que foi, tudo o que vem.
Cápsulas de tempos. O quiosque de antes e as carrocinhas de hoje – comidas para alimentar o percurso. Bori. As cadeiras de engraxate fechadas, à espera de clientes desaparecidos. Seu silêncio pergunta quem tinha direito aos sapatos séculos atrás, e quem precisa lustrá-los hoje, e sair de casa para carregar bandejas, apertar botões de elevadores e dar partida nos ônibus.
Tempos, os da cidade e os de cada visitante.
Com o uso da fotografia lenticular, a artista lança mão de uma tecnologia anacrônica para criar uma percepção mais rugosa e áspera. Pede que ofereçamos às imagens um convívio menos efêmero, deslizante, fugidio. Na proposta para Passeio Público, a percepção da rua é transposta para a exposição, com as fotografias banhadas por um fabuloso estado de vir-a-ser. Lúdicos, apesar de melancólicos, os registros também são gatilhos para a memória afetiva. Barbara nos convida a dançar com as imagens e vislumbrar, mesmo que de relance, a criança que ainda mora em nós e o Rio que pode nos visitar na velhice.