Nos primeiros anos de sua fundação, o Passeio Público era utilizado para as festas oficiais cercadas de pompa e luxo, assim como para momentos de lazer de famílias da alta sociedade, acompanhadas de pessoas escravizadas a seu serviço. No entanto, em pouco tempo, o local foi se tornando ambíguo em relação ao público frequentador, a depender do período do dia e do apagar das luzes. Para as elites, essas presenças não convencionais eram uma afronta ao projeto e a um passado que se pretendia glorioso. Em 1903, o jornalista João do Rio publicou uma crônica cheia de ironias em que denunciava a precariedade da iluminação no espaço, o que proporcionou o aparecimento de “vícios que amam a escuridão e o silêncio”.
Parece que a noite sempre foi o período reservado para as identidades consideradas dissidentes. Alguns anos mais tarde, Madame Satã, que frequentava o parque com suas amigas, foi proibida por um guarda de circular no local durante o dia , sendo sua presença permitida somente durante a noite.
Hoje em dia, para quem passa no entorno, o espaço permanece na penumbra, como se coberto por um manto que esconde sua exuberância. Sendo assim, torna-se aquilo que mais se temia: um espaço que recebe, em qualquer horário, o público que outrora teve seu uso vetado.